segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Como a água é escassa
A cerveja não gela,
O vinho acabou,
A cachaça não curte (efeito)
A fruta é seca pra suco,
A saliva prende a boca,
A lágrima escorre solta,
A chuva o chão devora ...
Resolvi, então, beber saudade.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Se não bastasse esse cansaço em mim .....

Não tenho mais promessas as avessas, nem olhares nas asas que possuo;
Não tenho mais acordes tatuados,
No face não faz mais morada, nem do contrário veste a certa forma;
Não tenho mais presente os avisos irritantes de whatsApp;
A saudade apagada não está, amena mora e olha do Copan a volta que a vida dá; dança assim no barulho do metrô.

Não querem mais o contrário;A cicatriz tem casca que teimo em tirar antes que coce.Casamento não houve no topo da sé e os celulares cansados da espera esgotaram baterias e moram do bolso.Não compartilhas nem o gosto, nem o cheiro da lembrança.Não mais ressurjo, pois na mensagem se fez a tarde e espalhou feito pó o vivido tido.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Mostro-lhe partes do corpo querendo que tu encontre o centro, mas apenas observa-me.  Olha-me como que querendo decorar meus gestos para depois poder prender-me por já saber meu tato. O sopro quente dos teus lábios chega a nuca minha e esfria a alma. Arrepio. O corpo está mudo, existe também silêncio feito de toques. Assim emudecemos por uma noite.
Amanhece, os corpos ainda  estranhos encontram-se nos minutos que da madrugada restam para depois perderem-se no primeiro bocejo que exala a coragem de um bom dia. Frente a nós um muro se esvai, as mãos, libertas, procuram-se. Mãos, parte do corpo sem lei, tecem caminhos que nos revivem ... Tesão ... Calor ... Beijo. 
A espera de nós fez-se tão longa que nem o gosto mais cabia aos lábios e estes, quase selvagens, mordiam. No susto você desprende-se, sai da cama, procura abrigo na água que do chuveiro corre.
Não sei lidar com fuga, assim num salto sigo-lhe e nós dois, corpos molhados, escorregamos até termos mesmo ritmo, fazemos um de dois. 
A matemática que calcula notas não cabe ao corpos de natureza sempre negativa, mesmo que transborde falta alma. 
O líquido límpido lava-nos o medo. Nossas cascas nuas, grudadas e entregues a parede do box, não mais sabiam do que a distância era feita. 
O telefone toca. As mãos nervosas brigam com a mente que quer atendê-lo. Esta ganha. Vem o "alô", a mudez do outro lado só dá espaço ao silêncio de nós. A ligação termina. O olhar retorna procurando o corpo. Este já está vestido.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

É tempo de mudar as flores

Se é tão difícil esquecer porque amamos?

Oh minha menina para explicar-lhe isso contarei uma história. As primeiras rosas criadas não tinham espinhos e todos que as viam se nutriam de um misto de medo e paixão, tocavam, sentiam o perfume e as amavam intensamente; mas sendo todas elas efêmeras, assim como chegavam, partiam ... Murchavam. Sendo assim, resolveram criar-lhes os espinhos para que seus admiradores ao pegá-las se furassem e sentissem aos poucos a dor que um dia a sua perda causaria. E as cicatrizes das mãos marcariam o número de rosas que colheram, assim como seu coração que marca os amores que viveu. Agora lhe pergunto: Mesmo sabendo que os espinhos furam um dia já deixou de colher rosas? E a sua própria resposta respondeu suas angústias!

quinta-feira, 7 de agosto de 2014


Meus dedos apagaram tantas vezes o que era pra ser dito que até esqueceu o que era pra dizer ... E devia até ser simples, devia ser apenas viver. Mas então foi a mente complicar e a palavra emudecer sentimento que não há além do que já é ... e é tão misto. Agora tenho pra mim que só sonho o entenda, pois o mundo de lá é feito de porém, talvez e entre tantos bem mais aceitos a mente  do que ao corpo, e tal desejo só pode viver ali, mundo de agir, a este não tem lugar. É como colocar algodão em sapato pra caber pé menor, quebrar espelho pra ver se nos cacos encontra a face perdida no olhar do outro, e havia tanto de ti naquele gesto que fica difícil pensar que ali não foste verdadeiro o Tu.

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Acordei com teus segredos e me fiz silêncio para de mim desejar-lhe felicidades. Minha vontade era gritar, era agarrar foguete de lembrar rumo ao interior de mim pra entender onde acaba querência; mas não, preferi imóvel ficar e em pensamento apenas me fazer presente em ti. Tenho pra mim que quando nos pegamos a pensar em alguém, feito oração, a energia se faz sentir ... Se contorna na forma do outro, espécie de amuleto, e assim, de forma simples, lhe protejo hoje. 

segunda-feira, 14 de julho de 2014

... E fiz de cada lembrar um mapa do que senti. Vi -me vasta por pensar que encontrar é perder-se  e cabe ao olhar pairar pra ver se caminho escolhido é lugar de morada ou passagem. Tu passa si.lên.ci.o.sa.men.te no sangue que me nutre, o vermelho vivo deixa -lhe belo, o gosto vem aos lábios e o odor amargo do perecer toma o ar, faz -se presente. Nas horas apego-me , no esquecer encontro - me, no vinho deito -me , na cama embriago -me  ... E é tão meu seu olhar lançado entre um acorde e outro de tua voz rouca que julgo te ter em mim, mesmo que em pequena quantidade e julgo morar em ti, mesmo que seja em fugaz madrugada. 

terça-feira, 17 de junho de 2014

Querências

Enquanto todos gritavam o mesmo grito bicolor, cá dentro também se fazia festa de duplo querer: Um de Pierrot outro de Arlequim ... Acontece que Arlequim é desvairado, tresloucado e eu sou louca, tenho essência desnorteada que se espalha e molha tudo, transbordante. Acontece também que não sou só de loucura feita, tenho um tanto meu de cuidar. Um cuidado que se encontra em silêncio castanho, em momentos de espera, em respostas tardias, num acalma-se, num balançar ... cuidado da medo, medo mistério. A vida seria perfeita se a mescla fosse possível, mas não, não é de toda aceita e assim é necessário querer um querer, e eu escolhi. Quis ter pra mim amormeuzim, cansei do talvez. Migalhas são boas quando a fome é pouca, e hoje acordei faminta. Faminta de vida. 

Parto de um querer e deixo um Adeus, serás este sempre bem vindo nos risos;  me dispo na entrega ao outro querer e grito: Bem quisto! 

E se esse jogar-se for mais um tombo, meu corpo não sente, levanta-se e grita: Dói, mas não mata, porque tenho asas!
Quantos segundos cabem num segundo, pensamento?
Quantos carinhos cabem num abraço, de lamento?
Quantas palavras ficam na boca que transborda?
Quantos toques cabem aos dedos que demoram?
De quantos em quantos se faz um tanto?
Pra onde vai a alma quando o olhar "desbrilha"?
Em que canto se perde a última gota do vinho?
Quem fala cala o silêncio?

Quem gosta vê reflexo no rio da alma, olhar.
A angustia se faz quando ao jogar a pedra a imagem que bela era se turva em círculos.
Todo amor é uma espécie de vaidade.






quinta-feira, 12 de junho de 2014

... E de pensar me pus a saber que sim, és atual, e o problema não está neste ano ser "verde amarelo" ... está em sempre ter sido mono cor. E há o belo até no podre, há de florescer até no limbo e eu ei de cantar-te nos meus versos, embora "caixão fechado não estimule verso alegre", sorrirei. Que a ironia e o acalanto surjam na mesma voz e que os mesmos dentes que mordem possam sorrir em resposta.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Subitamente me invade a vontade de fazer contigo cena de livro que li, sentada,enquanto esperava. Vi nossos corpos personagens mudos de uma terceira história ... E cada passo nos coube tão bem.

terça-feira, 10 de junho de 2014

Sou toda nua, pois o que outrora me vestia rasgou-se ao mirar teus zoim que é feito de gente com diverso prosear. Uns meio suicidas, outros meio de sonhar, que tentam no riso seu arrancar espaço de vida (in)finda. Diz pra mim, aqui pertim, pra que as palavras não se percam no caminho, o que nos cabe? O largo? A falta do vasto? O avesso ou a certa forma? Em mim cabe a vastidão do mundo e seus caminhos dificultosos, pois sem medo me fiz oca pra poder fazer de tua visita espécie de ecoado. Assim tu se faz, aos pouco, ser que surge no susto em meio ao pensar agir dos dias. Feito sujeito soluço. 
Quando a gente tem soluço e quer que pedaço de gente não grite paramos de respirar, tornamo-nos criança tapando boca com mão, roxo fica se tempo tartagueia, e assim, com gesto infantil, matamos o ser.
Há quem nunca tenha soluço. Há quem de tanto ter virou jagunço, tem assim peito coberto de mortes e no ventre o Sertão, porque por medo de ter ser dentro novamente parou de querer mergulhar em mar ... Há aqueles que sonham em ter e de inveja forçam gracejos soluçais, mas mire e veja o fraseado, verdade dita, se é que existe, deve ser de valor único: o soluço não existe solto. Soluço vive preso é na garganta do outro, escondido, garrado em cordas de fazer falar. 
Pois bem, acontece que eu tenho na faculdade da vida que gente é pássaro e vive solto, não me cativa dizer que amarre a boca e assim, peço procê não querer seguir mais eu ... siga solto que eu avôo ao redor, pelas beiradas. 

Acontece que só sou quando não penso, e quando penso me prendo no verso e na imagem, e pensando, pensei: Um cadim junto faz mal pra vida se o caminho de um não desfizer o andar do outro? Arre vida que muda e desmuda e deixa mudar! O que a gente deseja na fala mudou na mente e guerra se instaura. A palavra se apega no lembrar, mas este é nebuloso, desfaz, solta a mão, vira nuvem ... A palavra cai na carta, na fala, no verso e se faz sempre dúvida; se é deixou de ser, se será sabe se lá ...
   

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Sobre um amor ...

Forma mais sem lei de dizer amor: caracteres... 
No sentir cabe medida? Pois mire além, além-mar de nós, e veja que texto é feito chave pra abrir mundo, mundo de porteira arredia, mundo sem limite nato... mundo Sertão. De tudo quanto é flor de se cuidar eu quis para mim nutrir a Rosa. Rosa de mil pétalas postas, e quando aberta, em mais mil se faz. E da estória nasce a vida, e a vida traz um povo, e do povo se faz um, um ser de muitos lados. Por ser de tantos destes feita, me pus a querer bem escrita que assim se molda. 
Quis trazer do bel prazer, do bel amar, um pouco do mundo diverso do meu, quis ter buriti no fundo de mim, quis ter café gelado e bolo quente, quis ter boi luzeiro emanando luz luzente no seu balançar que falseia num pra lá e pra cá e leva na dança ritmo de ninar sonho meu; sonho que alumia ideia fazendo nascer porquês. A vida em seu fraseado é tão cheia destes... De certezas é pouco feita, e isso faz da busca lugar rico de morar. Assim me fiz: Riobaldo, Diadorim, Lélio, Lina e menina, menina do lado de lá que atravessa margem, que navega de forma audaz por entre frases, ritos e ditos. A leitura é espécie de viagem de passagem às vezes sem volta, é mundo bom de perder pra poder encontrar o que nem ao certo se sabe que foi buscar. Leitura é paz em momentos de descuido. Neste mundo de dizeres fiz morada, criei ninho, fiz da escrita um caminho, das palavras barco pra guiar ao fundo, e nas margens de mim (re)fiz essência. Tornei-me, por fim, mineira de alma larga.
 Mineiro não tem meias lições, ou é ou não é, é sujeito que “fantaseia”, ser farto no sentir. Sempre de mesa posta alimenta a fome de tantos, traz temperos de causos, conta e reconta imagens de mundo miragem, neblina, e nós que temos pra si que viver é algo de difícil pensar, ouvimos bem cá dentro o eco de tudo o que lá fora há ... Meu corpo faminto, feito de tantas diversas pessoas, pegou o alimento, respirou o perfume, mordeu as beiradas pra chegar, sem pressa, ao meio ... meio do mundo, “redemundo”. 
E assim comecei travessia. Guimarães fez-se em mim, pois sem nem me ter em mente traduziu de forma prima cada cadim de reboliço meu, sem nem mesmo eu ter nascido já vivia em teu criar. E por me achar nele, torno a perder-me em mim, e por ser tantas me viro em páginas e por assim fazer-se, simples e complexa, já tenho motivo bom de gostar. Gostar é a arte do querer bem, querer nas bordas, de lamber os beiços e continuar querendo, pois sede de querer não se mata, cresce e bate asas. Desta maneira sem muita métrica, compasso, sem caber porque transbordo, me (re)fiz no gostar, e este tenho cativo, porque sou do mesmo barro feita. Rosa pra mim se contorna como ser que buscou em sua vasta travessia tornar cheio o vazio que já nasce feito ... Vazio de gente saudade. Vazio que chega e vai ganhando espaço sem deixar rastros que não sejam "alembramentos" . 
A gente vive sempre em pontas de memórias, e resta apenas tentar entender caminho que levou ao que é, resta tentar contornar pessoa pra rememorar estórias, resta tentar beber carinho de horas pretéritas, resta tentar buscar abrigo ... Às vezes nem há memórias, às vezes nem há pessoas, às vezes só há uma saudade do que não houve ... Saudade "de todos os presentes vividos fora" de nós. Guimarães tem frases abraços, tem tom de acalanto que faz rede pra deitar, teia que emaranha sina nossa e tece um figurado que busca abrir porteira rumo a dentro, ao espaço centro, o mistério ... e a vida não é algo feito como um dado mistério? ... Substância. Assim é meu gosto, assim gosto e assim se fez e se faz meu sentir, no mais, sem mais.
Sinto que toda vez que digo há algo ainda a se dizer. E bem ai, nesse cadim de dito faltante, é que mora o que realmente se queria prosar. 
Não gostei de ser íntima demais, há segredos que são grandes demais pra meus ouvidos.
A gente não se apega a pessoa, mas sim aos momentos tidos com ela ... A pessoa mesmo você nem conhece. Só conhece partes ... E há tanto dela em um olhar que é até difícil pensar que a mesma não esteja toda ali. Submersa.
A vida transformou-se em um eterno jogo de não querer, de compor frases e discursos e esses partirem por ai traçando desapegos. Acontece que o rosto pesa quando a máscara é larga, acontece que a lágrima escorre quando há espaço e cai na folha molhando o verso.
Aqueta coração, carece de ter ânsia não ... Se a resposta não vem, não é por falta de vontade em chegar, mas sim por falta de palavras que a traga .

domingo, 8 de junho de 2014

Diz que adora sinceridade, mas prefere a mudez 
Diz que acha lindo cachos, mas prefere domados fios
Diz que a inteligência é o que cativa, mas prefere a facilidade do sugar 
Digo que prefiro viver, você se assusta e foge .... 

Antes de pensar nas amarras do mundo, corte seus próprios cegos nós.
Algo que me fere mais que riso com chave é a falta de tentar ... Tentar estar presente. Tem sempre alguém sentindo ausência, mesmo que com corpo coberto de mimos. A falta de vontade, a falta de amor, há falta em excesso ... 
O ruim de nascer faminta e com estômago pequeno é que se necessita comer o mundo, porém vomita-se um terço.
Gritemos
mais alto, mais limpo
mais puro ... Falemos.

Gritemos aos cantos
chamemos pra perto
lutemos por algo
que seja plural,
comamos!

Comamos a rala sopa
do exílio do dia feita.
Andemos com passos dotados de nós,
sigamos!

E quando o caminho findar,
quando o gritar rouco for,
quando chamar não mais der,
ajamos!

Não se mata a fome comendo grão do centro ... "Periferíe-se".