A esperança
entrou pela minha porta, veio fresca. Eu de medo fechei-me, sentei atrás da
porta, olhei por fechadura, de tanto morar em gaiola aprendi a ser presa.
Levantei, fui limpar a casa, varrer pó de lembrança, catar cacos de mim, e a
esperança lá a olhar-me. A esperança é bicho que não cansa. É caminhar sempre a
frente, nunca ao meu lado e por assim ser feita quis dar pra mim quem comigo
viesse. Sempre tive medo de estender a mão, ela travava, coração seguia
... Quando vou pra frente meus pés ficam
na ponta, ai viro vento ... Bambeio.
Sentei de novo, mais perto do chão sei andar melhor, minha altura de um
metro e tanto dá medo. Também sempre tive medo de altura.
Arrastei-me pelo
chão, reptei-me nos cantos da casa, perdi escamas, ganhei penas. Pássaro que
bate asas já esta ensaiando voo. Bati os braços, quebrei tudo que havia em
casa, a casa me comprimia, sufocava-me, na verdade a minha carne me sufocava
mais. Quis explodir. Olhei-me no espelho, quebrei o espelho e o invejei, ele
era mil de um só. Na ânsia de
compreender chorei, o alivio veio, não conseguia parar de chorar e pensei:
Transbordei, molhei o verde em flor, reguei-me, vida, grito ... ESPERANÇA. O
eco de mim se fez em tudo e para deixa-lo aqui, já que não queria ficar, pintei
paredes, porta, portão ... Pintei vida em mim. Reguei-te para um dia teus
filhos ninar no colo. Fiquei grávida de vida, pari um riso.